Barata Tonta
António Zambujo
Sai de casa, vê as horas
Solta a roda do vestido
Fecha a porta de mansinho
Dos seus lábios como amoras
Espreita um sorriso atrevido
Põe o pé no mau caminho
Passa por mim, diz-me adeus
E, em passo bem apressado
Desaparece no escuro
Ai, por um beijo dos seus
Eu vendia o meu passado
E comprava o seu futuro
Olha quem chega tão tarde
(Falta pouco o Sol desponta)
Vem de sapatos na mão
‘Inda tem quem a aguarde
Sou eu, a barata tonta
Às voltas com a paixão
Passa por mim, diz-me adeus
Vê as horas e boceja
(Há-de deitar-se vestida)
Ai, por um sonho dos seus
Em que fosse eu quem a beija
Dava toda a minha vida