Bebo Cana

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Bebo cana
Sapupara serrana
Não tomo cerveja, sou liso, só bebo cana
Bebo cana, cabelo crespo e a pele escura
Figueiredo, retalhado, à procura da pura

Bebo cana, tenta ver e não vê nada
Depois de uma meiota a visão fica embaçada
Sente o drama, do preço da conta
Dá dor, dá ódio, mais eu peço mais cana

Bebo cana, eu sei quem toma e quem tá fingindo
Os cara que me carrega pra eu não ser mais um bebo dormindo
A cana da muita peia e cela, túmulos, sangue, sirenes, tombos e quedas
Passa gelo na cabeça logo no outro dia
A consequência das pancadas que levou no dia
Periferia, vielas, cortiços, você deve estar pensando
Adivinhou, tô tomando um litro
Desde inicio bebo ouro e prata
Olha a cirrose irmão, veja você que mata
Viver deitado em leito de um hospital
Tomando soro, glicose já é natural
Historias, registros dos litros
Não é conto nem fábula, lenda ou mito
Não foi sempre dito que os bebo não tem vez
Então, nossos botecos não foi você quem fez cuzão
Eu sou irmão dos meus trutas de ressaca
Comi a carne agora é sopa e água gelada
Tim tim um brinde pra mim, sou exemplo
De derrotas, tragédias e derrotas
O dinheiro tira o homem da miséria

Mas não pode arrancar, dos coros dele a sequela
São poucos que sentam num banco pra beber
A rápa guarda, um lugarzinho é só você querer
Olho pra tras vejo os tombo que eu tomei
Mó bosta, quem teve lado a lado e quem só virou as costas
Entre as frases, bares e várias etapas
Sei quem é quem, os mano e das mina fraca
Ram, bebo cana no estilo
Pra frente eu vou, sem tremer, se tremer é frio
Entre o frio e a tempestade, sempre a provar
Altas doses de pinga e conhaque
Pois Deus me guarde, pois eu sei que ele não é neutro
Vigia os liso, mas ama os que andam bêbado

Eu fico bêbado por dentro e por fora
Encrenqueiro, poeta e o assunto toda hora, é bola
Nessa história de goró já perdi minha monark
Falo pros mano que não bebam e não se embriaguem
No tic tac não enxerga nem mais o ponteiro
Essa história de goró já virou pesadelo
Desespero? Rum é um elogio
Pra quem vive na pinga a paz, nunca existiu
Um caldo quente, os mano tudo sua frio
Veio um bebo tomou um caldo, num aguento e caiu

Bebo cana, bebo cana, bebo cana
Whisky, metanol, música, baralho, eu também
Não consegui fugir disso ai, e sou mas um
Tomar um porre é massa, mas prefiro contar
Uma história real, vou contar a minha
Queimei meu filme
Capotei com uma criança nos braços
Com 1 litro de conhaque e um maço de cigarro
Veja, quando acordei estava deitado no chão
E a multidão me olhando, sem nenhuma compaixão
Ei cachaça misturada com mel
Que é tão boa de tomar
Que tomei quase um tonel

Essa é brasileira, igual não tem no mundo
Marca registrada o xodó dos vagabundos
Luz, cana com limão, tomando ele vai
O coitado tá bem embriagado, seu pai?
Ei, senhor de engenho, eu sei bem quem você é
Sozinho você não aguenta, bebim você não aguenta em pé
Você disse que era bom, e as favela ouviu
Mais também tem whisky, Red Bull, e goró de barril
Admito, não foi bonito é, mais tive que beber
Conhaque, dreher com jurubeba, fiquei bem louco
Embriagado eu tô um pouco sim, tô eu acho
Só que tem que, é na empalhada que eu me acabo
Eu tomo ela de montão, de carnaval a carnaval
E quando eu chego bebo em casa eu vou dormir la no quintal

Problemas com cachaça eu tenho mil, mil fitas
Inacreditável e continuo na maldita
No meio de vocês eu sou o incentivo
Só porque eu bebo cana? Cana não aperitivo!

Esse não é mais seu ó, sumiu
Roubei foi o seu copo, tomei você nem viu
Mas é isso aquilo o que, você nem bebia
Agora quer ser um bêbo, rá que ironia!
Toma uma dose de conhaque, e ai que tal, o que você diz?
Sente ela queimando vai, tampa o nariz
Eta cana quem te fez tão boa assim
O o que você deu, o que você faz, ó o que você fez por mim
Eu recebi seu kit, quer dizer, kit de esgoto a céu aberto
E parede maderit
De embriagado eu não morri
Tô firmão, bebo sim!

Você não, você não aguenta quando o outro litro abrir
Sou o bebo mais um puro do gueto e bebo oba
Aquele louco que bebe até tombar
Aquele que você odeia mas, nesse instante
Que bebe várias de monte, e essa veio bem de longe
É cana, valeu mãe, bebo cana
Ai na época que eu tava deitado la na calçada, la na sarjeta
Onde vocês estavam? O que vocês deram por mim? O que vocês fizeram por mim?

Agora té de olho na cachaça que eu tomo? Tá de olho no meu litro?
Demorou, eu quero é mais, eu quero até sua fabrica, ai a cana fez ser
O que eu sou, só pitu é de dose, e me embriaguei, e toda família
E toda geração que ainda bebe, e toda geração que já tomou, e toda
Geração que vai tomar, dos anos 90 ao século 21
Aí, você saia de um bêbado, mas o bêbado nunca sai de você morou irmão?

Você tá bebendo no boteco, o mundo inteiro quer beber com você
Sabe porque irmão? Pela sua origem, pela sua cor
Eu não consegui, eu não resisti, eu vivo o nego cana
Eu sou o nego cana, eu sou fruto do nego cana

Ai dona branca, sem palavras a senhora é uma rainha, rainha
Mas ai se tiver que tomar da amarela, eu vou tomar de cabeça erguida
Porque assim que é, renascendo da pinga, já tô com cirrose, e inchado meu pé
Cachaceiro nato

  1. Bebo Cana
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