Trauma de Abandono
Carolina Deslandes
Sim, eu gozo com a minha infância
Pra fingir que não magoa
O meu à vontade passa por arrogância
Porque eu quero dizer tudo às pessoas
Sim, eu já vomitei o almoço
Com dois dedos na garganta
E já gostei do rapaz mais perigoso
Dava bem na confusão, já tive tanta
Sim, eu tive falta de pai
E todos riram dos meus sonhos
Sou das que não avisa quando sai
E se fizeres mal eu perdoo-te
Sim, também sou das que se exalta
Pra defender uma ideia
Digo que confiança não me falta
Mas a internet fez-me acreditar que eu sou feia
Manda tocar os violinos, eu sou a história triste
Que já vimos nos filmes, sou a que sobrevive
Só quis dar aos meus filhos o amor que nunca tive
Só não me faltou poesia porque me afoguei nos livros
Fiz de tudo piada pra não me tirar o sono
Acho que é hoje que me largas, tenho trauma de abandono
Eu fui a história triste, mas eu não pude escolher
O final não existe, esse eu posso escrever
Esse eu posso escrever
Sim, eu tenho ansiedade
E às vezes acho que é ela que me tem
Sou das que até diz que tem saudades
Mas devia e até queria ligar mais à minha mãe
Sim, eu benzo-me em capicuas
E não respiro nos túneis pra pedir desejos
Pra pedir às estrelas
Ou à Lua uma vida com menos luta
E um pouco mais de beijos
Manda tocar os violinos, eu sou a história triste
Que já vimos nos filmes, sou a que sobrevive
Só quis dar aos meus filhos o amor que nunca tive
Só não me faltou poesia porque me afoguei nos livros
Fiz de tudo piada pra não me tirar o sono
Acho que é hoje que me largas, tenho trauma de abandono
Eu fui a história triste, mas eu não pude escolher
O final não existe, esse eu posso escrever
Esse eu posso escrever