Bolicho
Cenair Maicá
No balcão cheiro de risos de taboa velha riscada
Maço de palha e o fumo numa estopa remangada
Poeirada, muita cachaça e alguma rusga entaipada
O rádio que se desmancha num tangaço de Gardel
Peça de chita floreada, renda, alpargata e pastel
E um gato velho brasino que a cuscada dá quartel
Bolicho beira-de-estrada, na solidão da campanha
Onde o índio solitário afoga as mágoas na canha
Morada dos cruzadores, onde o andejo sem rumo
Busca na canha e no fumo matar saudades de amores
Lá fora a tava que sobe, cá dentro trago que desce
A goela da oito baixos canta até o que não conhece
Um truco bem orelhado desde segunda amanhece
Ninguém passa sem chegar no bolicho beira-estrada
E o bolicheiro alarife tem a cara preparada
Às vezes sua livreta cobra quem não comprou nada