Era Assim Naquele Tempo
César Oliveira e Rogério Melo
Era assim naquele tempo... dos baile "véio" de rancho
Se achegava um de carancho tendo a d'alva de sinuelo
O bochincho tava visto no semblante do "paysano"
E no trinta e oito orelhano engasgado de caramelo.
Era assim naquele tempo... no universo das Três Vendas
Se um taura virasse renda, outro cambeava de pátria
Se acaso pelassem a "guaxa" de um "cristiano" no Uruguai
"quedava um hijo sin padre" velado a choro de gaita.
Pra lá do Upamaroty, bem antes do Vacaiquá
Entre Santana e Rivera, que em Dom Pedrito se encosta
Quem bolinava com a sorte da Villa Indarte pra cá
Pedia pra se "topá" com um tropeada sem volta.
Quando um insulto assoprava no movimento da noite
Um facão fazia açoite relampejando no apuro
Um pala no braço esquerdo escorador de "puaço"
Cadenciava o contrapasso que se bailava no escuro.
E a vida assim se perdia por nada ou por muito pouco
Um desacerto "nos troco", um retruco em riba de um às
Alguma penca de potro, "por supuesto" mal julgada
Ou uma irmã desonrada... e aí já era "demás".
Uns iam por "calaveras", outros iam por covardes
E às vezes, cheio de alarde, o finado era um valente
Era assim naquele tempo... e a justiça que imperava
Era a honra e a palavra, lei maior daquela gente.
As cruzes que serpenteiam nos entremeios da linha
São saudades que agonizam no fio afiado do vento
Ficaram ali demarcando a história que se assinala
Quando o destino embuçala... lembrança, razão e tempo.