Milonga Maragata
César Oliveira
Sou herança de Maragato
A velha raça caudilha!
Tenho sangue farroupilha
Galopando em minhas veias
Nos arrancos de trinta e cinco
Andei trilhando coxilhas
Enredado nas flexilhas
Tramando aço em peleias
Chiripá de saco branco
Lenço atado e meia espalda
E uma vicha que se esbalda
Na melena esgadelhada
Na cintura, a carniceira,
Companheira de degola!
E um "quarenta" de argola
Pra garatir a qüerada
Carcaça de puro cerne
Forjada em têmpera quapa
Com a rude estampa farrapa
Plantei tênencia de mau
E a descendência da raça
Semeei no eco do berro
Brincando de tercear ferro
Com chimango e pica-pau
Relampeia ferro branco
Também troveja a garrucha
Nesta milonga gaúcha
Que, por taura não se enleia,
Peleia dando risada!
Porque o macho se conhece
É atrás do "S" da adaga
Debaixo do tempo feio
Só a coragem sustenta!
Pode faltar ferramenta
Mas sobra a fibra guerreira
Pois quem herda a procedência
Do nobre sangue farrapo
Só morre queimando trapo
Peleando pelas ladeiras
Com o instinto libertário
E o tino de um fronteiro
Eu era um clarim guerreiro
Pondo em forma o Rio Grande
Pois a grito e pelegaço
Fiz a pátria que pertenço
Cabrestear para um lenço
Maragateado de sangue