O Malandro
Chico Buarque
O malandro, na dureza, senta à mesa do café
Bebe um gole de cachaça, acha graça e dá no pé
O garçom no prejuízo, sem sorriso, sem freguês
De passagem pela caixa, dá uma baixa no português
O galego acha estranho que o seu ganho tá um horror
Pega o lápis, soma os canos, passa os danos pro distribuidor
Mas o frete vê que, ao todo, há engodo nos papéis
E, pra cima do alambique, dá um trambique de cem mil réis
O usineiro nessa luta grita: Ponte que partiu
Não é idiota, trunca a nota, lesa o banco do Brasil
Nosso banco tá cotado no mercado exterior
Então taxa a cachaça a um preço assustador
Mas os ianques com seus tanques têm bem mais o que fazer
E proíbem os soldados aliados de beber
A cachaça tá parada, rejeitada no barril
O alambique tem chilique contra o banco do Brasil
O usineiro faz barulho com orgulho de produtor
Mas a sua raiva cega descarrega no carregador
Este chega pro galego, nega arrego, cobra mais
A cachaça tá de graça, mas, o frete, como é que faz?
O galego tá apertado, pro seu lado não tá bom
Então deixa congelada a mesada do garçom
O garçom vê um malandro, sai gritando: Pega, ladrão
E o malandro, autuado
É julgado e condenado culpado pela situação