Brega-chique (o Vento Levou Black)
Eduardo Dusek
Foi trabalhar
Recomendada pra dois gringos
Logo assim
Que chegou do interior
Era um casal
Tipo metido a granfino
Mas o salário
Era tipo, um horror
A tal da madame, tinha mania
Esquisitona de bater
E baixava a porrada
Quando a coisa tava errada
Não queria nem saber
Doméstica!
Ela era
Doméstica!
Sem carteira assinada
Só caía em cilada
Era empregada
Doméstica!
Nunca notou
A quantidade de giletes
Não reparou
A mesa espelhada no salão
Não perguntou
O quê que era um papelote
Baixou os home
Ela entrou no camburão
Na delegacia
Sua patroa americana ameaçou
Lembra que eu sou
Uma milionária
Eu fungava, de gripada
Não seja otária, por favor
Doméstica!
Traficante disfarçada
De doméstica
Era manchete nos jornais
O casal lhe deu pra trás
Sujando brabo pra doméstica
No presídio aprendeu
Com as companheiras
A ser dar bem
A descolar, como ninguém
Ficou famosa
No ambiente carcerário
Com a mulata
Que nasceu pra ser alguém
Pois não é que a
Doméstica!
Conseguiu uma prisão, doméstica
Saiu por bom comportamento
Mas jurou nesse momento
Vingar a raça das domésticas
Então alguém
Lhe aconselhou logo de cara
Dá um passeio
Vê se arranja um barão
Porque melhor
Que o interior ou que uma cela
É ter turista e faturar
No calçadão
Até que um dia
Um Mercedinho prateado buzinou
Era um louro alemão
Que lhe abriu a porta do carro
E lhe tacou um bofetão
Doméstica!
Virou uma baronesa
Doméstica!
Mesmo com as taras do barão
Segurou a situação
Levando uma vida doméstica
Realizada em sua mansão
Em Stutgard
Ouvindo Mozart de Beethoven de montão
Com um pivete
Mulatinho pela casa
Que era herdeiro
De olho azul como o barão
Precisou de uma babá
Botou um anúncio
Bilíngue no jornal
Seu mordomo abriu a porta
Uma loira meio brega
Uma yankee de quintal
Doméstica!
Era a americana, de doméstica
A nêga deu uma gargalhada
Disse: Agora tô vingada
Tu vai ser minha
Doméstica!