Cantiga do Estradar
Elomar Figueira Melo
Tá fechando sete tempo
Qui mia vida é caminhá
Pulas istradas do mundo
Dia e noite sem Pará
Já visitei os sete reino
Adonde eu tinha qui cantá
Sete didal de veneno
Traguei sem pestanejá
Mais duras penas só eu veno
Ôtro cristão prá suportá
Sô irirmão do sufrimento
De pauta vea cum a dô
Ajuntei no isquicimento
O qui o baldono guardô
Meus meste a istrada e o vento
Quem na vida me insinô
Vô me alembrano na viage
Das pinura qui passei
Daquelas duras passage
Nos lugar adonde andei
Só de pensá me dá friage
Nos sucesso qui assentei
Na mia lembrança
Legião de condenados
Nos grilhão acorrentados
Nas treva da inguinorança
Sem a luz do Grande Rei
Tudo isso eu vi nas mia andança
Nos tempo qui eu bascuiava
O trecho alhei
Tô de volta já faz tempo
Que deixei o meu lugá
Isso se deu quando moço
Qui eu saí a percurá
Nas ilusão que ai no mundo
Nas bramura qui ai pur lá
Saltei pur prefundo os pôço
Qui o Tinhoso tem pur lá
Jesus livrô derna d'eu môço
Do raivoso me panhá
Já passei pur tantas prova
Inda tem prova a infrentá
Vô cantando mias trova
Qui ajuntei no caminhá
Lá no céu vejo a Lua nova
Cumpanhia do istradá
Ele insinô qui nóis vivesse
A vida aqui só pru passá
Nóis intonce invitasse
O mau disejo e o coração
Nóis prufiasse pra sê branco
Inda mais puro
Qui o capucho do algudão
Qui nun juntasse dividisse
Nem negasse a quem pidisse
Nosso amor o nosso bem
Nossos terém nosso perdão
Só assim nóis vê a face ocusta
Do qui habita os altos céus
O Piedoso o Manso e Justo
O Fiel e cumpassivo
Sinhô de mortos e vivos
Nosso Pai e nosso Deus
Disse qui havéra de voltá
Quando essa terra pecadora
Margúiada em transgressão
Tivesse cheia de violença
De rapina de mintira e de ladrão