Canto de Guerreiro Mongoió
Elomar Figueira Melo
Uiúre iquê uatapí apecatú piaçaciara
Unheên uaá uicú arauaquí ára uiúre Ianêiara
Depois, depois de muitos anos
Voltei ao meu antigo lar
Desilusões que desenganam
Não tive onde repousar
Cortaram o tronco da palmeira
Tribuna de um velho sabiá
E o antigo tronco do oliveira
Jogado num canto pra lá
Que ingratidão pra lá
Adeus vou embora pra Tromba
Lá onde Maneca chorou
De lá vou indo pro Ramalho
Pro vale verde do Yuyú
Um dia bem criança eu era
Ouvi de um velho cantador
Sentado na praça da Bandeira
Que vela a tumba dos heróis
Falou do tempo da conquista
Da terra pelo invasor
Que em inumanas investidas
Venceram os índios mongoiós
Valentes mongoiós
Falou de antigos cavaleiros
Primeiros a fazer um lar
No vale do Gibóia no Outeiro
Filicia, Coati, Tamanduá
Pergunto então cadê teus filhos
Os homens de opinião
Não dói-te vê-los do exílio
Errantes em algueio chão?
Nos termos da Virgem Imaculada
Não vejo mais crianças ao luar
Por estas me bato em retirada
Vou indo cantar em outro lugar
Cantar pra não chorar
Adeus vôu embora pra sombra
Pro vale do rio Gavião
No peito levarei teu nome
Tua imagem nesta canção
Por fim já farto de tuas manhas
Teus filtros, tua ingratidão
Te deixo entregue a mãos estranhas
Meus filhos não vão te amar não
E assim como a água deixa a fonte
Também te deixo pra não mais
Do exílio talvez ainda te cante
Das flores a noiva entre os lenções
Dos brancos cafezais
Adeus, adeus meu pé-de-serra
Querido berço onde nasci
Se um dia te fizerem guerra
Teu filho vem morrer por ti