Desafio do Auto da Catingueira
Elomar Figueira Melo
Senhores donos da casa, o cantadô pede licença
Pra puxar viola rasa, aqui na vossa presença
Venho das banda do norte
Cum pirmissão da sentença
Cumpri minha sina forte
Já por muitos con'icida
Buscando a I'lusão da vida
Ou o cutelo da morte
E das duas a prifirida
Há que me mandar a sorte
Já que nunciei quem sou
Deixo meu convite feito
Pra qualqué dos cantadô
Dos que se dá por respeito
Que aqui por acaso teja
Nessa função de alegria
E pra que todos me veja
Puxo alto a cantoria
Cum-essa viola de peleja
Que quando n'mata-aleja cantadô de arrelia
Só na escada de uma igreja
Labutei quantos u'dia
Cinco morreram de inveja
Três de avexo e um de agonia
Matei os bicho cum'mote
Que já me deu três mulé
É a história de um caçote
Um quati e um saqué
O caçote com o pote
Coou, pro quati, um café
Em-antes ofereceu o lote
Num saco pro saqué
O saqué secou o pote
Deixou o quati só com a fé
De que dentro do tal pote
Inda tinha algum café
E xispô sambando um xote
O enxavido do saqué
Que quati ca-dica a sorte
Bato o bico e boto o bote
O que é que o saqué quer?
Em-antes porém aviso
Sô malvado, não aliso
Triste ou feliz é o cantadô
Queu-apanhar pra dar o castigo
A'pois quem canta comigo
Sai defunto ou sai dotô
Sô cantador chegante, me adesculpe o tratamento
Nessa hora nesse instante, mermo aqui nesse momento
Com um canto tão significante
Sem fama sem atrevimento
Num duelo de falante
Venho de muito conhecimento
Mas pra títulos e valentia
Só traz u'a viola na mão
Falta ilustre companheiro
Marcar o lugar da porfia
Se lá fora no terreiro
Ou aqui mémo no salão
Vamo logo mano à obra
Deixe as bestas de lado
Que a luma já fez manobra
No seu canto alumiado
Vosmicê que sois daqui
Vai deixando espiricado
As roda dos cantori-lírio
E que lhe é mais agradado
Se vamo cantar o moirão
O martelo ou a tirana
Ou a ligeira sussuarana
Parcela de mutirão
Ou entonce, ao invés
A obra de nove pés
De oito, sete, ou seis
Ou se dez pés, um quadrão
Vamo logo mano à obra
Deixe essas coisa de lado
Vamo cantar no salão
Tô mais riuna que a cobra
Que traz o rabo encravado
Envenenado o ferrão
A'pois-sim, tá certo: Vamo
Cantá qualqué cantoria
Brinquei-lhe em minha acamo
Pra rodá a sabedoria
Vamo cantar, meu amigo
As moda que for chegando
Num córreno assim o perigo
Que tá sempre esp'ricando
P'esse povo que eu digo
Enducado me escutano
A'pois pra entender parcela
Martelac-ou-quitirando
Tem que bater mil cancela
Na estrada dos desengano
E ainda pú-rriba tem
Que saber, sofrer, esperar
Memo sabendo que não vêm
As coisa do seu sonhá
Na estrada dos desengano
Andei de noite e de dia
A'pois sim, tá certo: Vamo
Cantá qualqué cantoria
Na estrada dos desengano
Andei de noite e de dia
Inludido percurando
Aprendê o que num sabia
Quando eu era moço, um dia
Risolvi sair andando
Numa estrada da alegria
A alegria percurando
Curri doido, atrás dela
Entrou ano, saiu ano
Bati mais de mil cancela
Na estrada dos desengano
Bati mais de mil cancela
Na estrada dos desengano
Todo cantadô errante trás nos peito
Uma mazela nas alma lua minguante estrada
E o som de cancela
Todo cantadô errante trás nos peito
Uma mazela nas alma lua minguante estrada
E o som de cancela, a
Ai, fonte que ficou distante
Que matava a sede-dela
E o coração mais discrente
Dos amor da catingueira
Ai o amor é uma serpente
Esse bicho morte a gente
Vamo'pois cantar parcela
Va-e'-dá, da-e'-da
Eu sou cantador de cocô
Eu não canto parcela
Parcela feiticeira
Eu corro às legua dela, ah, ah
Chegando nu' lugar
Adonde teja ela
Eu vo' me adisculpano
Me dano nas canela
Da-e'-da, da-I'-da, da-I'-na
Conheci um cantadô ossudo e valente
Que mangava dos amore e zombava a fé dos crente
Mas um dia ele tocou nos batente d'u'a janela
E o bicho do amor mucamba, pomba e donzela
E o cantadô aos pouco foi se paixonan'o pu'ela
Té que um dia ficô louco de tanto cantar parcela
E hoje véve pela estrada, resmungando que é culpada
Foi a mucamba da janela
Da-e'-dá, dá-'e- ná
Eu sou cantadô de coco
A'pois quem canta parcela
Corre o risco são francisco
Morre doido cantano'ela
Dá-e'-na
Dá - e' - ná
Tá-ín-a