Ooorra
Emicida
Direto vejo pai brincando com filho no parque
Sinto inveja, fico me perguntando: Tio, o que que a vida fez comigo?
Sorrio pelos pivetes, acho da hora
Olho pra baixo, tenho mó vontade de chorar, mas não consigo
Em segundos me vem vinte e poucos dia dos pais
Guardo o presente fi, ele já não volta mais
Arrasta a cartolina com papel crepom
Amassa, joga no lixo: Porra, pior que esse aqui tava bom
Hoje fico olhando na espreita
Vendo os moleques aí, com pai mãe do lado e nem respeita
Deviam ser por um dia o que eu sou há trinta anos
Pra vê se cês ia tá na de trocar os coroa pelos manos
Não sei se dá tristeza ou ódio
Não conseguir lembrar de você sóbrio
Não vi as vadia nem seus aliado
Com o doutor no corredor implorando pelo que há de mais sagrado
Eu já passei fome, já apanhei calado
Já me senti sozinho, já perdi uns aliado
Eu já dormi na rua, fui desacreditado
Já vi a morte perto, um cano engatilhado
Eu já fugi dos homem, bati nos arrombado
Quase morri de frio, eu já roubei mercado
Já invejei quem tem pai, já perdi um bocado
Eu sofri por amor, eu já vi quase tudo chegado!
E mesmo assim, tive que penar pra aprender
Que minha mãe não ia poder tá lá pra me ver crescer
Tinha que trabalhar pra ter o que comer
Não ver seu filho aprende a falar, essa porra deve doer
Aguentar madame mandar e ter que acatar
Ainda ouvindo o bairro sussurrar: Você sabe, mãe solteira é o quê?
Ver seu tempo acabar, sua chance morrer
E no fim do mês ganhar, o que não da nem pra sobreviver
Me ensinou a não desistir rapaz
Miséria é foda, só que eu ainda sou bem mais
Maderite furado, cigarro, cheiro de pinga
Olha onde eu cresci! Onde nem erva-daninha vinga!
Como cê vai sonhar com pódio se amor é luxo
E com a grana que nóis tem só dá pra ter ódio?
Coisas da vida, história repetida, algo assim
Com quatro anos eu já via o mundo inteiro contra mim
Eu já passei fome, já apanhei calado
Já me senti sozinho, já perdi uns aliado
Eu já dormi na rua, fui desacreditado
Já vi a morte perto, um cano engatilhado
Eu já fugi dos homem, bati nos arrombado
Quase morri de frio, eu já roubei mercado
Já invejei quem tem pai, já perdi um bocado
Eu sofri por amor, eu já vi quase tudo chegado!
E o que eu sempre tive foi minha rima
O resto se foi tipo trampo, amigo, mina
Eu nunca quis vive disso, nunca sonhei com isso
Eu tava acostumado à rimar por hobby e trampa por uns trocado
E eu ia pro crime, irmão
Se não fosse a confiança do Pedro e do Felipão
Sem dinheiro, já dava pa vê o fim
Mas um me levou pra liga e o outro fez as bases pra mim
Na fé, me pôs no lugar onde vários quer nome
Foda-se todos, eu não quer mais passar fome
Amo isso, vou ser contribuinte
Assim ó, escrever como quem vai morrer no dia seguinte
Vagabunda, pirou nos flow, a cada ideia ouvia: How
Quando vi, o radinho tocou, gente querendo show
E agora, eu vou fazer virar com os meus
É real, o menino do morro virou Deus!
Eu quase me perdi nas ilusão
Fui salvo, por ter sabedoria e pé no chão
Chamei uns de irmão, quando nóis era sócio
Pensei ter feito amigos, e tava fazendo negócios
Odeio vender algo que é tão meu
Mas se alguém vai ganhar grana com essa porra, então que seja eu
E os que não quer dinheiro, mano
É porque nunca viu a barriga roncar mais alto do que o eu te amo
Eu vi minha mãe, me jogar dentro do guarda-roupa trancado
Era o lugar mais seguro, quando a chuva levou os telhado
E dizia: Não se preocupa, chuva é normal
Já vi o pior disso aqui, ver o bom hoje é natural
E o justo, então antes de criticar quem cê vê trampar
Cala boca e pensa, quantas história cê tem pra contar
Falar que ao dizer A Rua é nóis, pago de dono da rua
Desculpa, eu vivo isso e a incerteza é sua!
Se você não se sente dono dela, xiu não fode!
E antes de escrever um rap, me liga e pergunta se pode