Verso de Barro
Mauro Silva
Cantador o João de barro
Sobre o moirão da porteira
Depois da semana inteira
De garoa e aguaceiro
Encharcou poncho, sombreiro
Aperos e invernadas
Lavando o suor das manadas
Aos olhos deste campeiro
Busquei a rima no tempo
Enquanto o Sol matrereia
Que vem judiando as maneias
O laço e o tirador
Feito um bagual sentador
Que não se amansa por nada
Cardando a crina embarrada
Num palanque costeador
Cardando a crina embarrada
Num palanque costeador
Este meu verso de barro
Marcou de casco a poesia
E na alvorada do dia
Travou roseta de espora
Respingando sem demora
Quando apeei na porteira
Saiu junto as barrigueiras
Pra recorrer campo à fora
Saiu junto as barrigueiras
Pra recorrer campo à fora
E quando enlotei a tropa
Nestas estrofes inquietas
Marcas da mescla completa
De terra, água e trabalho
O tranco, o tranco do meu cavalo
Todo sujo de querência
Faz história em reticências
Soltando nacos de barro
E o barreiro segue firme
Sempre atento no serviço
Cantando seu compromisso
Num rancho quincha pro céu
Enquanto não’algum tropel
No passador do banhado
Cruza um campeiro emponchado
Com barro até no chapéu
Cruza um campeiro emponchado
Com barro até no chapéu
O verso que ainda canta
Na hora da desencilha
Desapresilha as rodilhas
Depois de algum atropelo
Deixando um rastro sinuelo
Embarrado no estribilho
Falando do meu tordilho
Mudando a cor do seu pelo
Este meu verso de barro
Marcou de casco a poesia
E na alvorada do dia
Travou roseta de espora
Respingando sem demora
Quando apeei na porteira
Saiu junto as barrigueiras
Pra recorrer campo à fora
Saiu junto as barrigueiras
Pra recorrer campo à fora
Este meu verso de barro
Marcou de casco a poesia