Rotina Brasileira
Nauta (Marcus Vinicius)
5 da matina, o dia já começa
De novo atrasado, de novo com pressa
Esse é o João, zelador do prédio
Trabalha dez horas, brasileiro médio
Mas eu também, memo busão, memo motô
Vou atrás do meu corre
Chego no trampo e meu patrão
Entrega o relatório ou o couro come
Uma hora de almoço, eu sei que é pouco
Tem gente com menos, por isso nem falo
O frango tá quente, o arroz tá quente
Mas como sempre, o feijão tá gelado
Voltando do trampo, duas horas por dia
Me sinto sardinha, todos enlatados
Mas eu não reclamo, tem o meu primo
Mais de dois anos tá desempregado
E no celular, um moleque de 15 que fez um milhão
Só no último mês, te faz sentir culpa pelo que cê é
E cê se pergunta: Por que cê não fez?
E quando deito, eu penso: Por que eu não venço?
Como já tamo em dezembro?
Como eu arranjo mais tempo
Perdendo o sono com perguntas
Que amanhã já não lembro
Sempre sem tempo, sempre com sono
Sempre contente na frente do dono
Mas tudo bem, trampei tanto esse ano
Sei disso porque ele tá de carro novo
Acordo segunda, quero ser o primeiro
Não dura um segundo, o décimo terceiro
Já vendi minhas férias, paguei minhas parcelas
E me cobram com juros, por ser brasileiro
Minha vida é meu tempo e tempo é dinheiro
Eu não tenho um, o outro nem se fala
Mas por aqui, dinheiro é tudo, e aparentemente minha vida é nada
E quando deito, eu penso
Por que eu não venço? Como já tamo em dezembro?
Como eu arranjo mais tempo
Perdendo o sono com perguntas que amanhã
Já não lembro