A Carta
Paulo Flores
Querida mãe, espero que estejas bem
Eu aqui também nem te quero pôr preocupada
Mas aqui na banda tem gente que manda
Tem outros como eu tem outros que nem sequer por isso
A medicina ainda é o feitiço oh minha mãe
Mas a doutrina cura os infiéis desiludidos
Com o santo que tanto se venera
Bate as pernas apressado, ultrapassando
O motorizado veículo, enquanto o frenético discípulo
Desce a cidade de encontro ao sol do meio-dia
Querendo ao pagar seu dízimo, comprar um lugar no céu
Quebram-se os ritmos, fecham-se os rostos
Ignorando os desgostos, ignorando a força dos desgostados
Inspirados aos novos sons das novas periferias
Em quantas telefonias mudam o rosto da cidade
Prédios, gruas, damas semi-nuas o progresso atropela
Com sinceridade a geração da utopia
Nem minha canção sorria não mais ingênua
Não como a primeira, vez nem como o primeiro dia
Oh mãe oh mãe oh mãezinha
Teu filho um dia sonhou mudar o mundo
Mutilados cabisbaixos descem os compatriotas
Os cidadãos, buscando notas nos semáforos
Da nova civilização
Oh mãe: galaça mu galaça
Não vá eu cair em desgraça por não ser um espelho
Dos conteúdos estéreis da nova televisão
Patos natos damas com altos saltos
Frequentando as bodas onde as Marias todas
Passam pela lama do semi-asfalto
Primas, filhas tuas minhas do alheio
São de quem chegar primeiro
Como alguém cantou um dia
Querida mãe espero que fiques bem
Recebe aqui também um beijo do filho que tanto te ama
Se precisares só me chama oh minha mãe
Luto para não perder tua pátria amada
Teu filho um dia sonhei mudar o mundo!
Oh mãe oh mãe oh mãezinha
Teu filho um dia sonhei mudar o mundo!
Oh mãe
Ilusão do mundo