Anjos Não Falam
Piruka
Hoje acordei com pensamentos suicidas
Numa das mãos uma pistola
Noutra fotos das minhas filhas
A sociedade ensina-te a ter duas vidas
A que tens e a que disfarças
Por não teres a que querias
Só mais um comprimido
A insónia não me larga
Sou seguido por milhares
Mas sou eu quem os afasta
A maioria vê os carros, o ouro e a casa
A minha família vê o André
Sempre com o pé na estrada
Como é que eu explico às pequenas
Que o pai tem problemas
Por isso é que nem sempre as recebe com um sorriso
A minha agenda traz-me algemas
Eu vivo preso a ela
E à pressão de ter de me sentir bem-sucedido
Recebo chamadas do bairro
Mais dinheiro, mais ajuda
E eu ajudo porque parte de mim ainda lá vive
Ou talvez ainda faça
Para alimentar a farsa
De os tentar convencer que ainda sou humilde
Não distingo quem me odeia
De quem ama
Quem me queima
De quem chama
E eu vou vivendo em fogo-posto
Ouço a voz da minha velha
A dizer que eu estou um homem feito
E eu nem me sinto de carne e osso
Mas é nela e nas minhas filhas que eu penso
Quando algo me convence a aproximar do precipício
Ouve
Esta depressão a mim não me vence
Porque eu sei que em cada amanhã existe um novo início
Encontra-te comigo a meio da ponte
Diz-me que o nevoeiro esconde um horizonte
Que me ajude a entender
O que eu faço aqui
É que anjos não falam
Mas ouço-os a chamar por mim
Por mim
Encontra-te comigo a meio da ponte
Diz-me que o nevoeiro esconde um horizonte
Que me ajude a entender
O que eu faço aqui
É que anjos não falam
Mas ouço-os a chamar por mim
Por mim
Eu também tenho dias que ao chegar em casa
Tento em deixar a lágrima e dizer “cheguei”
Poucos conseguem entender o peso da minha cara
Mas conseguem falar do que eu conquistei
Ouço falar em depressão
Penso se será isto ou não
Ando a viver com máscaras diariamente
Porque homem que é homem chora
E a vida não colabora
Mostro-me vivo por fora a morrer por dentro
Se trabalhamos dá dinheiro
E o meu trabalho dá dinheiro
Porque é que hoje há dinheiro e eu sinto um vazio?
Sempre quis ser o primeiro
E quando me vi em primeiro
O meu sonho ruiu
Eu penso: O que é que eu faço agora?
Sinto o meu país nas costas
À espera duma falha
Ou de eu ser perfeito
Tu vives a vida que querias
E agora dizes que não gostas
Porque eu amo a música, mas fama odeio
Eu fiz a cama em que me deito
Eu sei
Se errei
Tinha dificuldade em ver os meus defeitos
Mas agradeço e não me queixo
E o homem que me tornei
Tornei-me num pai de família
Com balas ao peito
E eu acordo com pensamentos suicidas
Sempre
Graças a Deus há quem me afaste do precipício
Ouve
Esta depressão a mim não me vence
Porque eu sei que em cada amanhã
Existe um novo início
Encontra-te comigo a meio da ponte
Diz-me que o nevoeiro esconde um horizonte
Que me ajude a entender
O que eu faço aqui
É que anjos não falam
Mas ouço-os a chamar por mim
Por mim
Encontra-te comigo a meio da ponte
Diz-me que o nevoeiro esconde um horizonte
Que me ajude a entender
O que eu faço aqui
É que anjos não falam
Mas ouço-os a chamar por mim
Por mim