O Pai, o Filho e o Carro
Poeta J Sousa
Nesse poema se nota
Que à força da prepotência
Os sintomas do rancor
E os gumes da violência
Se tornam desordenados
Na hora que são tomados
De encontro à inocência
Uma criança brincava
Na frente da moradia
Enquanto seu pai voltava
Dos haveres que fazia
Encostava com carinho
Um automóvel zerinho
Que comprou naquele dia
Porém, como a inocência
De uma criança não sai
Essa criança caiu
No que qualquer outra cai
Frágil de raciocínio
Com pedaço de alumínio
Riscou o carro do pai
E continuou riscando
Sujando o carro de barro
Quando seu pai viu aquilo
Gritou, brigou deu esparro
E com gestos de vingança
Pegou a mão da criança
Bateu com força no carro
Ferindo a mão da criança
Nessa pancada brutal
E daquele ferimento
Deu um tétano grande mal
Foi o menino coitado
Pelo mesmo pai levado
As pressas pra o hospital
Mas como o mal era forte
Não encontraram outro jeito
Cortaram do garototinho
O seu bracinho direito
O pai sem pedir desculpa
Sentia o peso da culpa
Fervendo dentro do peito
Voltaram do hospital
Lamentando a cada passo
A mãe sentindo desgosto
E o filho faltando o braço
O pai na sobra da calma
Queimava o manto da alma
Na fogueira do fracasso
Em casa perdeu o rumo
De tudo quanto fazia
Não olhava mais pra o carro
Nem comia e nem bebia
Debruçado numa mesa
Ouvindo a voz da tristeza
Gemendo na moradia
Um dia estava chorando
Sem ter consolo nem paz
Veio seu filho enxugar
Seus prantos sentimentais
E disse assim papaizinho
Quando crescer meu bracinho
Seu carro eu não risco mais
Quando ele ouviu essa frase
Não pode mais suportar
Preparou o suicídio
E disse: Eu vou me acabar
Minha viagem está pronta
Irei pagar minha conta
Do tanto que Deus cobrar