Cabidela
Seu Pereira e Coletivo 401
Cheiro de sangue, rastro de bala
Não me abala tanto quanto uma família com fome
Pra matar a fome, o homem mata um leão por dia
Por muito menos mata um homem
Tá faltando leão no sertão
Tá faltando leão na favela
Tá faltando leão no subúrbio
O povo tá matando cachorro a grito, gato, cadela
A moela tá roncando, o cano deu o disparo
É bala comendo gente, é gente comendo barro
É barro, é lama preta, é berro de mãe aflita
- Será que morreu de morte matada ou morte morrida?
A vida continua na próxima esquina
Carreira de pivete, de cocaína
Pipoco de carabina
Foco na carnificina
O medo se dissemina
O analista examina
Lampião e lamparina
Morte e vida Severina
Agora eu quero que tu diga
o nome de cinco meninas
Que morreram de inanição
Com a boca no bico do peito murcho, cinzento
Pega um caixote, faz um caixão
E enterra na cova do esquecimento
Treme o calor no asfalto,
num clima de bang bang
Rastro de bala, cheiro de sangue
Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Do churrasco mal passado de Zé
Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Do picado de Dona Tereza
Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Da galinha cabidela dela
Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Com vinagre cozinhando na panela
Cheiro de sangue, rastro de bala
Não me abala tanto quanto aquele pivete pedindo
Hoje é um pedinte, amanhã um ladino
O menino crescendo, o diabo sorrindo
A polícia matando, traficante vendendo
O menor cheirando cola no calor do meio-dia
Um velho pedindo esmola, tocando na campainha
- Aí seu moço, já tem almoço?
Algum trocado no bolso
Pra eu completar a passagem
É que eu tô só de passagem
Olha, eu vim lá do cafundó do Judas
Ai me ajuda, ai me ajuda, ai me ajuda
Tenha misericórdia de um pobre féla da puta
A vida continua na próxima esquina
No ronco do motor, queimando gasolina
Mói o mundo na usina
Mói o dinheiro, a propina
Verba que não se destina
Confete com serpentina
No chão o sangue germina
E a brincadeira termina
Agora eu quero que tu diga
O nome de 20 meninas
Que morreram de inanição
Com a boca no bico do peito murcho, cinzento
Pega um caixote, faz um caixão
Enterra na cova do esquecimento
Treme o calor no asfalto
Num clima de bang bang
Rastro de bala, cheiro de sangue
Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Do churrasco mal passado de Zé
Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Do picado de Dona Tereza
Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Da galinha cabidela dela
Cheiro de sangue, cheiro de sangue, cheiro de sangue
Com vinagre cozinhando na panela
A vida continua na próxima esquina.