Tributo a Zé Marcolino
Ton Oliveira
Seu ofício era a arte de cantar
Catedrático nas aulas da natura
Cinturinha de abelha era a cintura
Das morenas nas noites de luar
Afiou-se na pedra de amolar
Mas a pedra da morte é afiada
Ficou o barro batido da latada
Sem as marcas dos pés do dançarino
Uma vaca matou Zé Marcolino
E eu não dava José numa boiada
Bira e Fátima não param de gemer
O serrote é agudo e está de prova
Com o tempo secou cacimba nova
Nunca mais o seu dono vai encher
Quem botou Severina pra moer
Foi moído na última caminhada
E a limpeza da sala rebocada
É a cara do povo nordestino
Uma vaca matou Zé Marcolino
E eu não dava José numa boiada
Foi parceiro de Lua e gravou disco
Suas músicas passeiam por aí
Triste pássaro carão do Cariri
Que voou procurando o São Francisco
Um vem-vem voejando tão arisco
Quando achou Pernambuco, fez morada
Outro mito pisou Serra Talhada
E fez-se pó junto ao pó de Virgulino
Uma vaca matou Zé Marcolino
E eu não dava José numa boiada
Foi a vaca o motivo desse choro
Sem querer nos causou tanta saudade
Um poeta tem mais utilidade
Do que carne de vaca, leite e couro
Era filho de Sumé e valeu ouro
Criatura telúrica e inspirada
Escreveu um poema pra estrada
E sucumbiu nas estradas do destino
Uma vaca matou Zé Marcolino
E eu não dava José numa boiada