Melhor Rima de Sempre

Valete Valete

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Eu era um puto já todo hiphopiano
24 horas a ouvir rap como um insano
Ouvia desde Reakwon a Master Ace, Sapasse On, Melodee, Abonda, Big Pun, Bahamadia
Hum.. Também queria ser um rapper
E por outros rappers a gritar mama mia
Mas fiquei logo desencorajado
Quando Marinho passou na radio aquela maquete de mafila
Dealema e Ace na mesma faixa
Trazer aquela cena que racha
Rima suprema que esborraça bro
Manos traziam eloquência nunca antes vista
Era um novo tipo de liricistas com a escrita vanguardista
Achava que nunca ia chegar aquele nível
Seria mais um invisível
Nunca seria protagonista
Depois disso ainda fui ao Johnny Guitar
Ver uns niggas a rimar
E lá vi o Nigga War e os Next
Fiquei preplexo
War tinha um flow processo
E os Next cuspiam versos com a energia de Das Efx
Ainda havia o Boss
Com a rima causava hipnose
Sunrise do flow complexo rimava tipo um T. Rex
Como é que eu ia brilhar no meio de tantos monstros?
Consegui fazer o estrondo
E ter sucesso com os meus raps
Mas tu disse-me que um grande homem não esmorece
E pa eu acreditar na tese que é na fé que esta o progresso
Disseste-me
Para eu ter autoestima
E ser persistente
Porque eu ainda iria fazer a melhor rima de sempre

Comecei a escrever rimas de forma alucinante
Com a fé incessante que um dia seria predominante
Conheci o Sam
Fazia maquetes e jams
Em casa dele com o Black Master, Master Pula e o S.A. m
Largava umas bombas mas ainda cheirava a leite
Mesmo assim o BomberJack convidou-me para as mixtapes
Cuspia com fome em cada mix
Obelix do microfone era o ciclone
Valete com o rap matrix
O meu nome espalhou-se de Monção a Portimão
Eu trouxe aquele rap habilidoso
Que causava a sensação
Mas muitos diziam que Valete era muito incompleto
Que eu só tinha flow
Que o meu rap não tinha intelecto
O que é que eles queriam?
Que eu fosse Alexandre Herculano?
Que eu fosse um grande carola?
Cuspisse knowledge com 17 anos?
Ai tu disseste-me para não ligar as críticas
Porque isso só me ia causar danos
E afectaria todos os meus planos
Criamos canal 115
Rimas em série
Éramos Jery, Gary, Lyricer
CuspÍamos intempéries
Convidaram-nos para uma actuaçao em Almada
Nós e os Next ia ser lotaçao esgota
Tava la toda a gente do movimento
Desde manos de Benavente
Até acho que manos de Lousada
Era talvez o nosso concerto mais importante
Ensaiamos quase um mês ia ser carga pesada

Concerto falhado
Eu destroçado
E as ruas a dizer que os Next tinham fuzilado
Entrou o ano 99 hiphop cresceu mais
Black Company e Boss já eram grupos transversais
Dealema e Sunrise tinham o culto de imortais
Micro e sam batiam até em vivendas de Cascais
Mind da Gap já rebentava em festivais
Chullage e Xeg na altura eram as promessas nacionais
Já ninguém falava de Valete
Estava desconsiderado e desprezado como um wack
Sem autoestima
Larguei as rimas
Larguei a paixão que alimentava a minha rotina
Sempre que te ouvia a rimar eu recordava
Sempre que ouvia uma batida, amargurava
Sempre que ouvia uma música minha chorava
Quase dois anos longe daquilo que mais amava
Ai tu disseste-me de forma dolorida
Que sem o rap eu nunca teria uma vida
Sem o rap seria uma alma obscurecida
Perdida nos traumas e derrotas sofridas
Disseste-me
Que o meu destino era ser um MC influente
E que eu ainda iria fazer a melhor rima de sempre

Voltei as barras em maio de 2001
Ainda eram ensaios de escarra
Para rappers era sayonara
Decidi lançar um CD
E ser o MC do R.A. pra que narra tudo aquilo que a TV mascara
Gravei Educação visual com dinheiro emprestado
Do meu nigga Vado, Sam, BomberJack e do Cruzado
O álbum saiu em Setembro de 2002
Impacto tremendo, ainda me lembro como se fosse hoje
Recebia props de todo o movimento hip-hop
Portugal, Macau, Brasil
Principalmente os PALOPs
2006 lancei Serviço Público
E o Blitz e o público chamaram-me novo rei do anti-pop
Milhões de audições no MySpace e YouTube
Sem rádios nem televisões
Sem nunca vender o cu
2008 tive uma proposta de Angola
Para bulir numa grande empresa
Ganhar por mês 10. 000 dólares
Seria auditor das fabricas de Luanda e Huambo
E assessor do director da fábrica de quando Kubango
Trabalharia horas infinitas
Já não teria mais tempo para a escrita
Mas era muita guita
Podia ficar com a vida resolvida e dar um casarão a minha mãe
Ai tu disseste que eu tinha uma missão
Que era dar instrução as ruas e espalhar informação
Disseste-me que eu não podia abandonar o movimento
Porque eu ainda iria fazer a melhor rima de sempre

Fiquei apavorado quando me disseste que já não ias rimar mais
Já não ias cuspir instrumentais
Que ias seguir a vida dos iguais
Agora vejo-te a trabalhar 12 horas por dia
Nesse trabalho que te explora
E devora a tua alegria
Já não tens tempo pa quase nada
O pouco que tens é para a tua avó adoentada
E para a tua namorada
Amanhã vais fazer um filho
E vais seguir o trilho dos que deixaram a vida hipotecada
O teu nome ainda é enorme nas ruas
Cospes rap com o uniforme da verborreia mais crua
Adamastor
Todos adoram
Todos imploram
Pelas tuas rimas que as ruas condecoram
Sem o rap nunca terás uma vida mano
Sem o rap serás uma alma obscurecida
E não tens forma de deixar o movimento
Porque ainda tens de vir fazer a melhor rima de sempre
E não tens forma de deixar o movimento
Porque ainda tens de vir fazer a melhor rima de sempre

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