Patativa
Vicente Celestino
Acorda, patativa, vem cantar
Relembra as madrugadas que lá vão
E faz de tua janela o meu altar
Escuta a minha eterna oração
Eu vivo inutilmente a procurar
Alguém que compreenda o meu amor
E vejo que é destino meu sofrer
É padecer, não encontrar
Quem compreenda o trovador.
Eu tenho n'alma um vendaval sem fim
E uma esperança que hás de ter por mim
O mesmo afeto que juravas ter
Para que acabe este meu sofrer.
Eu sei que juras cruelmente em vão
Eu sei que preso tens o coração
Eu sei que vives tristemente a ocultar
Que a outro amas, sem querer amar.
Mulher, o teu capricho vencerá
E um dia tua loucura findará
A Deus, a Deus, minha alma entregarei
Se de outro fores, juro, morrerei.
Amar, que sonho lindo, encantador
Mais lindo por quem leal nos tem amor
E tu vens desprezando sem razão
A mim que choro e busco em vão
O teu ingrato coração.