L'orage
Georges Brassens
O TEMPORAL
Falem-me da chuva e não do tempo bom
O bom tempo enoja-me e faz-me ranger os dentes
O belo azul enche-me de raiva
Pois o maior amor que me foi dado na Terra
Devo-o ao mau tempo, devo-o a Júpiter
Ele caiu-me do céu de um temporal
Numa noite de novembro, encavalado nos tetos
Um terrível temporal, com gritos de gambá
Acendia seus fogos de artifício
Pulando do leito, em traje de noite
Minha vizinha, transtornada, veio bater à minha porta
Reclamando meus bons ofícios
Estou só e tenho medo, abra-me, por piedade
Meu esposo acaba de sair para seu árduo trabalho
Pobre e infeliz mercenário
Obrigado a dormir fora quando faz tempo ruim
Pela simples razão de que é representante
De uma fábrica de para-raios
Bendizendo o nome de Benjamin Franklin
Coloquei-a em lugar seguro, entre meus braços carinhosos
E, depois, o amor fez o resto
Tu, que semeias para-raios a rodo
Por que não os puseste em tua própria casa?
Erro funesto a não mais poder
Quando Júpiter foi ser ouvido em outros cantos
A bela, tendo, enfim, conjurado o pavor
E recobrado a coragem
Voltou ao lar para secar o marido
Marcando encontro comigo nos dias de intempéries
Encontro marcado para o próximo temporal
A partir daquele dia não baixei mais os olhos
Dediquei meu tempo a contemplar os céus
A ver passarem as nuvens
A espreitar os stratus, a olhar de soslaio para os nimbus
A lançar olhos ternos aos menores cumulus
Mas ela não voltou
O sujeitinho do marido tinha feito tanto negócio
Vendido, naquela noite, tantos toquinhos de ferro
Que tinha ficado milionário
E a levado rumo aos céus sempre azuis
Dos países imbecis onde não chove nunca
Onde não se sabe nada de trovoadas
Deus queira que meus queixumes vão, a toque de caixa
Lembrá-la da chuva, lembrá-la do tempo ruim
Aos quais fizemos frente juntos
Contar-lhe que a queda de um raio assassino
No vinte do meu coração deixou o desenho
De uma florzinha que se parece com ela