Verídico
Dillaz
Mais uma vez pisaste o risco, foste embora
Puseste as roupas na mala cagaste pa quem te adora
A cabeça trinta vezes mais quente do que à uma hora
Pensas em tudo menos no frio que faz lá fora
Aí paras e pensas onde é que paras agora
O padrasto não quer saber e a tua mãe que não melhora
É o desgosto que piora pois há tempos que te implora
A dor solidifica, respeito evapora
Sem pensar na refeição seguinte,
Nas festas vives 4 horas tu cagas nas outras vinte
Se tu fosses um pedinte, amigos punham-te a milhas
Mas tens fundos e bebida, tudo uma maravilha
Vais pensando que não é nada, mente alucinada
Alma perdida, olheira descaída e narina coçada
Ver o teu irmão mais novo com a vista toda molhada
Pois nesse rio tu vais nadando porque ele não pode fazer nada
Tu entras nessa constante batida sem veres a razão
Todos os verdadeiros te avisam, não passas cartão
Dizes que tens amigos pra vida que sabes quem são
Por mais que tu tejas na fossa nunca te deixarão… não…
Mas não sei se foi bem assim mas deixa que isso eu já te conto para o fim
E lá tas tu a esticar uns talhos na mesa a ouvir um som acelerado
Preferes uma rotina acesa do que o teu charro apagado
E vais seguindo, assim tu vais passando
Alegre vais sorrindo, mas às vezes pensando
Confianças vão subindo, amizades já nem tanto
As posses vão descendo, amigos vão bazando
E agora o que é que fazes?
E conheceste o teu novo lar
Casa de reabilitação, tu tens o corpo para curar
E não metes na cabeça que te querem ajudar
Quem lá ta mete conversa mas tu não queres falar
Ficas à parte, a tua vida tá um tédio
Trocaram-te o álcool e a droga por um remédio
Tu perdes os teus vícios, assim ganhas receio
Sentado a olhar pró nada, foi assim um mês e meio
Foram 45 dias sem ter comunicação
Na opinião de quem lá trabalha tu já não tens solução
É má vontade nas coisas que tu rejeitas
Porque jantar despensas e almoçar tu não aceitas, deitas-te…
A ver se amanha não te lembras disso, nesse mundo movediço
E pra tua surpresa brother hoje acordaste com um sorriso
E vês que tudo que viveste foi de forma ingrata
Porque a vida é valiosa de mais para queimar na prata
E no momento tu vais vencer todos os duelos
E recuperar a namorada que trocaste por cogumelos
Está na hora, reage, levanta-te, respira
A vida é inocente de mais para estar constantemente na mira
Quando tu fores lá para fora todos esperam uma recaída
Se a vida é vivida a 100 tu sabes bem que ela se pira
Olhas pró relógio tu vês o ponteiro
Passaram dois meses, está a passar o terceiro
E já tentas abater esse bichinho que é matreiro
Que te cria essa vontade que tu tens de dar um cheiro
Tu passaste o tempo inteiro alucinado e sem memória
Aguentaste até choraste e deste a mão à palmatória
Tiveste forças e saíste do teu canto
Ainda carregas a vergonhas mas ressaca já nem tanto
Todos os vícios e vontades vão desaparecendo entretanto
Ainda não tas a 100% mas tas quase recuperado, para teu espanto
Agora em casa sentes a companhia
Das pessoas a quem roubaste alegria
Tens mais energia, tens mais amor próprio
Ta tudo tão nítido, tudo tão sóbrio
E agora que já não tocas em nada
Ao pé da malta da pesada
Se não bafas do charrinho és um pacóvio
Viraste uma pessoa desprezada, por ti voltavas para a estrada
Mas meu puto a vida não é feita de ópio… não não não não
E vais ganhando um certo sentido
À pala de tanta dúvida acabaste dividido
Não te sintas oprimido, isso não
Porque sabes bem que uma pequena luz faz muita luz na escuridão
A tristeza de saída... Há muita coisa perdida
Mas recuperas se tiveres coração
E lembraste da mulher da tua vida, a que viste de partida
Até essa já voltou para o teu colchão
Então tu aproveita tudo aquilo que eles te dão
Olhas à volta e tu reparas amigos onde é que estão?
Tu não choras mas aguentas essa ferida, mas vai ter que ser esquecida
Pois comovida tá a tua mãe e o teu irmão
E se algum dia alguém te disserem que o mundo não é feito para dependentes
Tu não dependes da conversa vai em frente
Tu sempre soubeste, tens gente que te ajuda
Tens gente que é da pura, meu puto eu faço parte dessa gente
Sempre que te lembrares do pente, recorda com agonia
Vive a vida normalmente, rejeita essa nostalgia
E a lutar contra marés porque o barco és tu que guias
Porque agora filhos és, mas pai serás um dia… eu to aqui pra ver
A corrida é curta de mais para correr
E se algum dia tu cegares estou aqui pra fazer ver
Tens mais que um objectivo pra vencer
Não adianta nada apostares se sabes que vais perder
Mas tropa ai tou contigo e tas comigo
Porque o teu caminho é longo e nem sempre é a descer
Tu só tens de cair para aprender e fazer acontecer
A cabeça é para erguer meu brother