Foi Deus
Francisco José
Não sei, não sabe ninguém
Porque canto o fado
Neste tom magoado
De dor e de pranto
E neste tormento, todo sofrimento
Que sinto na alma
Cá dentro se acalma
Nos versos que canto
Foi Deus, que deu luz aos olhos
Perfumou a rosa
Deu oiro ao Sol
E prata ao luar
Foi Deus, que me pôs no peito
Um rosário de penas
Que vou desfiando
E choro a cantar
Pôs as estrelas no céu
Fez o espaço sem fim
Deu o luto às andorinhas
E deu-me esta voz a mim
Se canto, não sei o que canto
Misto de ventura, saudade
Ternura ou talvez amor
Só sei que cantando
Sinto o mesmo quando
Se tenho um desgosto
E o pranto no rosto, nos deixa melhor
Foi Deus, que deu voz ao vento
Luz ao firmamento
E pôs o azul, nas ondas do mar
Foi Deus, que me pôs no peito
Um rosário de penas
Que vou desfiando
E choro a cantar
Fez poeta o rouxinol
Pôs no campo o alecrim
Deu as flores à primavera
E deu-me esta voz a mim!