Minha Jóia (feat. Jessica Cipriano)
GNTK
Tudo começa e tudo acaba de repente
Como a promessa de um amor que não se sente
A vida é pressa e o passado é tão recente
E nada muda isso por mais que se tente
O acidente apareceu no meu caminho
Depois de uns copos de vinho peguei no carro sozinho
Parti tão cedo com medo do meu final
E estou agora no meu próprio funeral
Enquanto quatro tábuas seguravam meu corpo
A minha alma ia fugindo a pouco e pouco
Foi tão difícil sair daquele sufoco
Agora sei que deixei este mundo louco
Fui subindo lentamente, assistindo atentamente
Aos que desalmadamente choravam minha partida
E são tantos os encantos que a mente me elucida
Achei que a minha missão foi cumprida em vida
Mas o encanto foi breve como um estudante em greve
Pois vi mais heterônimos do que o Pessoa teve
(Pessoa era um poeta famoso português)
Alguns anônimos pra saciar a sua sede
Daquela foto que só fica bem a quem se atreve
Eu vi ainda gente que não me falava há meses
Era bem-vinda a hipocrisia que existia nesses
Ouvi à ida dois que me julgaram tantas vezes
Com o mesmo cérebro que pareciam siameses
Enquanto outro consolava a minha namorada
Como um abutre que encontra a presa morta na estrada
A falsidade era evidente em cara descarada
E eu à frente, impotente sem poder fazer nada
Já o descansa em paz apraz em eminência
A curto prazo sou capaz de vir a ser tendência
No Facebook e vai haver sempre quem poste
Aquele emoji com uma lágrima Lacoste
Condolência em incongruência
Minha excelência dará dicas por esta experiência
Se queres ser bem falado por toda a gente
É só fechares os olhos eternamente
Sei que andei de mãos atadas pra não falhar a ninguém
Mas fui eu que dei voz às palavras neste fado que enfrentei
Minha vida, minha joia
Investi da minha história
O que fica são memórias
Minha vida, minha joia
A minha filha, eu vi minha filha também
Desolada partilhava a dor com a minha mãe
Onde é que está o pai? Por que é que o pai fugiu?
Eu gritei bem perto dela e ela não me ouviu
Maria, dá a mão ao teu avô, ele vai-te ensinar
Tudo aquilo que a mim ensinou
E quando te sentires sozinha olha pra cima
E caminha pelas pegadas que o pai te deixou
Vi meus amigos, aqueles verdadeiros sim
Mesmo no fim nunca saíram de perto de mim
Daqui a uns anos, manos, juntamo-nos novamente
Brindamos prevalecendo o que é de sempre e para sempre
Eu sei que agora é indecente falar nisto nas
Horas que passam e só pra alguns é que ainda existo mas
Os que me prezam, rezam, os que desprezam, riem
Demônios não revezam, aos santos que me guiem
E já no purgatório, processo obrigatório
De acesso ao território inglório pra um pecador
O falatório permanecia notório às portas do cemitério, critério desolador
Avancei ao meu destino com ar submisso
E nesse compromisso vi uma luz e disse
Não me importa se vou para o céu ou inferno, o que hoje vi
Longe de mim ter um descanso eterno
E foi então que eu acordei daquele pesadelo
O coração batia forte por esse momento
Tive a ambição de desejar não mais voltar a tê-lo
E uma lição que fez mudar todo o meu pensamento
Só depois de falecer é que alguém saberá
Que é fácil de perceber quem sempre estará lá
Vou amar os meus cada segundo que estou cá
Já que a vida são as férias que a morte nos dá
Sei que andei de mãos atadas pra não falhar a ninguém
Mas fui eu que dei voz às palavras neste fado que enfrentei
Minha vida, minha joia
Investi da minha história
O que fica são memórias
Minha vida, minha joia