Numa Corrente de Verão
Jorge Vercillo
Vento soprou minha ilusão
Flor de algodão, meu pensamento
Pulou muro, foi embora, looping no ar
Numa corrente de verão
Pro ninho de algum pardal, décimo andar
Pela janela, cai no pelo
De um cachorro animado pra passear
No ventilador do elevador
Lá vai a minha ilusão, flor de algodão
Quase passou carro por cima
Atravessou a rua inteira na contramão
Se estatelou pelas vitrines
Mais um golpe de ar, vai passear
A tarde inteira para pousar na sua mão
Eu não sou de olhar o que passou
Nem lamentar o que se foi
Sou de criar o que será
É como os relógios de Dali
É como as torres de Galdi
Como Brasília para Oscar
Ou no arremesso de um outro Oscar
Assim eu vou no vento
Sou uma folha de pensamento
Einstein andou no tempo
Cruzou paredes e rio por dentro
É, nosso futuro assim será
Feito uma escada a se formar
Por sob os pés de quem sonhar
De quem ousar pensar além
Eu não sou de olhar o que passou
Nem lamentar o que se foi
Sou de criar o que será
De quem ousar pensar além