Purgatório II
Kant
Sinceramente eu nunca comi açúcar
Comer uma vez só, sei lá, não vai matar ninguém, normal
Pensando bem, eu nunca matei ninguém
Uma vez só? Bom
Eu passo tempo demais comigo
E mesmo assim consigo ser o meu pior amigo
Tá tudo bem, disso eu entendo bem
Então por que eu não entendo por que eu vivo em conflito?
Quase sempre eu tô aflito
Drogas no meu sangue, eu aplico
Tristezas velhas, eu replico
No pulso um relógio caro e ainda falta tempo pro meu filho
Tyler, acredite o papai tinha escolhas
Porém, sobraram agulhas e eu precisei furar as bolhas
Meu coração em chamas, o mal me chamas
Eu juro que tentei colocar desde o início o amor em folhas
Velhos cadernos com rabiscos compõem minha estante
Eu queria que fossem fotos mas perdi os instantes
Bruno, você não é igual a todo mundo
Eu sei mamãe, por isso que só enxergaram Kant
Oh, oh, pai
Às vezes eu só queria um abraço
Sabe quantos anos o Tyler tem? Quatro
E sobre a Trinity
Ruim de admitir, mas te confesso
Talvez eu nem verei os primeiros passos
Quer saber quando eu me sinto bem?
Abro minha gaveta e vejo que há um comprimido de zolpidem
Divido no meio, saboreio
Ele faz mal pra mim
Foda-se, eu também faço mal pra alguém
Ah, me sinto um palhaço imundo
Vocês sorriem enquanto eu recito um foda-se profundo
Se eu pudesse eu explodia todos, eu explodia o mundo
E mesmo assim eu sei que cês aplaudiriam tudo
Querer explodir tudo, esse é o mal do Osama
Isso te faz sentido? Por que o mal nos ama?
Querer ser bom, esse é o mal da fama
Drogas, putas, armas, esse é o hall da fama
Ok
Será que alguém consegue resolver essas merdas sem mim?
Nunca fui bom matemático
Esses problemas tem fim?
Sempre fui bom problemático
A vida fez ser assim
Já me arrancaram a alma
O que cês querem? Meu rim?